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Histórico das eleições presidenciais do Fluminense – Parte 4.

Carlos_Santoro

Updated: Oct 28, 2022


 

Diante dessa decisão, começou a busca por um outro nome de consenso para ocupar o mais alto posto da administração tricolor. Um dos primeiros nomes lembrados foi o do primeiro medalhista olímpico brasileiro, o presidente da Federação Brasileira de Tiro, Afrânio da Costa. Este, porém, uma vez consultado, declinou a indicação, alegando não lhe ser possível a incumbência devido aos seus inúmeros afazeres. Surgiu então o nome do ex-prefeito do Rio, Alaor Prata, que prontamente aceitou a difícil missão. Eleito no dia 12 de fevereiro, entre os nomes apresentados por ele para compor a nova diretoria e homologados pelo conselho, reunido em sessão permanente, cinco dias depois, estavam o de Hugo Hamann, antigo jogador do clube, para Diretor de Futebol, em substituição ao ex-goleiro Oswaldo Velloso, que solidário ao Comendador Oscar da Costa havia pedido demissão, e curiosamente Jayme Sotto Maior, nome muito ligado ao Vasco, para segundo vice-presidente.



O restaurante do Fluminense foi palco em 8 de abril de 1937 de um laudo banquete, oferecido por proeminentes tricolores ao seu presidente. O jantar tinha dois propósitos: homenagear Alaor Prata pela sua brilhante gestão à frente do clube e convencê-lo a aceitar a sua reeleição para o biênio a terminar em abril de 1939. Com a sede do clube ricamente ornamentada, uma excelente orquestra executando variado e agradável repertório, banquete servido com esmero, farta distribuição de champanhe, brindes, saudações e discursos de agradecimento, e a inauguração solene de seu retrato na Galeria de Presidentes da Sala de Troféus, ficava difícil recusar o apelo dos sócios do clube. E de fato foi exatamente isso que aconteceu. Alaor Prata disse “sim” e foi reeleito no dia 13 de maio para mais dois anos de mandato. Nessa mesma reunião foi aprovado o segundo uniforme branco a ser usado a critério da diretoria.

No início de 1939, em vias de terminar a sua gestão, Alaor Prata enviou carta ao presidente do Conselho Deliberativo, Mário Pollo, declarando que desejava que seu nome não fosse sufragado nas próximas eleições. Porém no final de abril, a menos de quinze dias do pleito, acabou sendo convencido do contrário por uma comissão de conselheiros que o visitou em seu escritório comercial. Mas impôs uma condição: só seria presidente por mais um ano, concedendo assim, tempo suficiente para que fosse escolhido um outro nome para o encerramento do seu mandato. Cento e dezesseis conselheiros compareceram à assembleia que o reelegeu pela última vez em 8 de maio. Um recorde de presença em reuniões do Conselho Deliberativo até então. Convém frisar que não sofreu uma única alteração os nomes propostos pelo ex-prefeito para compor a sua diretoria, continuando nos seus postos os mesmos diretores da administração anterior.

Alaor Prata cumpriu o prometido e no início de abril de 1940 enviou carta ao Conselho Deliberativo confirmando a sua intenção de renúncia. Seus motivos eram estritamente particulares – desejava descansar e se afastar das atividades esportivas -, sem nenhum fundo político, embora tenha se comentado que as críticas que recebera por ter voltado atrás de sua decisão inicial de não contratar jogadores estrangeiros podem ter contribuído para a sua decisão. O nome escolhido para sucedê-lo foi o de Mário Pollo, dirigente da velha guarda com extensa folha de serviços prestados ao Fluminense, do qual era sócio contribuinte desde 1906. Quanto a vice-presidência, ela passava agora a ser dividida em três: Iberê Bernardes, primeiro vice-presidente, cuidaria da parte social; Arlindo Pinto da Fonseca, segundo vice-presidente, seria o responsável pelos esportes profissionais; e Affonso Teixeira de Castro, terceiro vice-presidente, controlaria os esportes amadores. Entre os nomes agraciados com títulos de benemerência na reunião de 29 de abril estavam os dos dois últimos presidentes do clube, Oscar da Costa e Alaor Prata, e o do atleta da natação, João Havelange.

Ao ser eleito, Mário Pollo salientou a sua inquebrantável intenção de permanecer apenas um ano à testa dos destinos do Fluminense. E ele foi fiel à sua palavra, pois no início de 1941, ao se aproximar o término de seu mandato, nem mesmo um abaixo-assinado com mais de duas mil assinaturas de sócios tricolores contendo um apelo à sua permanência foi capaz de demovê-lo do propósito de não candidatar-se a reeleição. Tornava-se necessário a escolha de um outro nome para gerir o clube no biênio que se avizinhava

Entre os nomes ventilados pela imprensa para sucedê-lo, estavam o de Oscar da Costa, Iberê Bernardes, Afrânio da Costa e Castro Neves. Mas por uma razão ou por outra nenhum deles gozava de unanimidade entre os tricolores. Numa reunião realizada em 15 de abril no escritório de Arnaldo Guinle, em que estiverem presentes Oscar da Costa, Alaor Prata, Iberê Bernardes, Castro Neves e Mário Pollo, o patrono do clube salientou a conveniência de se evitar luta partidária dentro do clube, e obteve de todos a garantia que fosse qual fosse o nome escolhido para substituir Mário Pollo, todos se comprometeriam à acatá-lo. Isto obtido, Arnaldo Guinle apresentou, então, o nome de Marcos Carneiro de Mendonça.

A escolha do inigualável goleiro campeão sul-americano de 1919 pegou a todos de surpresa. Não porque o julgassem incapaz de comandar o Fluminense, mas porque ele encontrava-se há anos afastado das administrações do clube. A opção por Marcos foi uma jogada de mestre de Arnaldo Guinle, pois o antigo arqueiro era quase uma lenda dentro das Laranjeiras. Um nome de muito prestígio e muito querido entre os sócios, capaz de agradar à gregos e troianos.

Marcos não fugiu da responsabilidade e aceitou o desafio, tornando-se em 5 de maio, o décimo-quarto presidente do Fluminense, eleito com 103 votos, numa reunião que ficou marcada pelo discurso de despedida de Mário Pollo, em que o ex-mandatário tricolor proferiu a famosa frase: “Minha casa é meu clube e meu clube, o meu lar”. Com a eleição de Marcos, três grandes clubes do Rio passaram a ter ex-futebolistas consagrados em sua direção suprema. Os outros dois sendo o Botafogo com Mimi Sodré e o Flamengo com Gustavo de Carvalho, campeão de 1911 pelo Fluminense.

No final de 1942 Marcos de Mendonça teve de se ausentar do país por um longo período, acompanhando a esposa em missão oficial do governo brasileiro aos Estados Unidos. Especulou-se sobre uma possível renúncia sua e diversos nomes, como Arthur de Moraes e Castro (Laís), Luiz Gallotti e Gastão Soares de Moura, foram aventados para, em caso da renúncia se confirmar, substituí-lo. Mas no final das contas Marcos apenas licenciou-se do cargo, assumindo a presidência interinamente, Affonso Teixeira de Castro, um dos três vice-presidentes do clube. Ao devolver a presidência à Marcos em fevereiro de 1943, Castrinho sugeriu a adoção de um bastão, como esses usados em corridas de revezamento no atletismo, com as cores do Fluminense e com o nome de todos os presidentes do passado e do presente gravados, como símbolo da continuidade dos ideais que norteiam todos que passaram e irão passar pela presidência do Fluminense, a ser transmitido de presidente à presidente, conforme as administrações fossem se sucedendo.



Em meio as tratativas de fusão do Fluminense Football Club com o Fluminense Yatch Club (atual Iate Clube do Rio de Janeiro) – clube fundado em 1920 no Fluminense por sócios do Fluminense com as cores do Fluminense e cuja fusão estava prevista na própria ata de fundação -, Marcos de Mendonça aceitou ser reeleito e permanecer à frente do Fluminense, o do futebol, apenas até que a fusão fosse ou não consumada. A ideia era que estabelecida a união, Arnaldo Guinle, o comodoro do Yatch, assumiria a presidência do clube resultante da fusão. Foi então por força das circunstâncias que Marcos, cuja intenção original era não continuar à testa do Fluminense, foi reeleito em 10 de maio de 1943 para mais dois anos de gestão. Como era de praxe nessas ocasiões, o Fluminense inaugurou na sua Sala de Troféus o retrato do presidente que terminava o seu mandato. E também como acontecia em quase todos os anos recentes, um conselheiro, nesse ano Sydney Haddock Lobo, propôs a extinção do Departamento de Futebol Profissional. Proposta rejeitada por ampla maioria de votos.

Embora reconhecessem o compromisso assumido de fusão com o Tricolor de futebol em seus próprios estatutos, os diretores do Tricolor náutico, grande parte deles torcedores de outros clubes e contrários a união, apelaram ao grêmio das Laranjeiras no sentido de os desobrigar do velho compromisso. Confirmando as expectativas, o Conselho Deliberativo do Fluminense, em reunião em 14 de junho, abriu mão de suas prerrogativas, encerrando de vez as discussões sobre a questão. Julgando, então, cumprida a sua missão, Marcos de Mendonça anunciou a sua intenção de renunciar à presidência na próxima reunião do conselho.

Os dirigentes do Fluminense fizeram, então, um convite para que Arnaldo Guinle assumisse o comando do clube no lugar do demissionário Marcos. O Patrono do Tricolor, que com o fracasso da fusão renunciaria à presidência do Yatch, respondeu afirmativamente ao apelo, mas ficou assentado que ele só assumiria o clube após as reformas dos estatutos, cuja principal modificação era a criação de um conselho de vice-presidentes, o chamado Conselho Diretor. Posteriormente ficou decidido que por ser inoportuna uma mudança de direção no meio da temporada, Marcos de Mendonça continuaria na presidência do Fluminense até janeiro de 1944, quando, então, seriam realizadas as eleições que elegeriam Arnaldo. Mas uma decisão tomada em um tribunal desportivo modificaria esses planos.

Essa história começa em 15 de agosto, quando durante o clássico Fluminense e Vasco, o juiz Drolhe da Costa anulou um gol supostamente legítimo do Vasco, e que ao término dos noventa minutos teria dado a vitória à equipe cruzmaltina. Três dias depois, em decisão controversa, o Tribunal de Penas da Federação eliminou o árbitro do quadro de juízes da entidade. Sentindo que o Fluminense fora indiretamente atingido com a medida arbitrária, já que erros de arbitragem eram comuns no campeonato, Marcos de Mendonça desceu a lenha no Tribunal que, entretanto, manteve a decisão. Desgostoso e desgastado com o episódio, Marcos resolveu pedir licença de 60 dias da presidência do Fluminense, prazo este que pretendia ir prorrogando até o final de sua gestão. Seus companheiros de diretoria não concordaram com o seu pedido, o que o levou à renúncia em 26 de agosto. O sexto presidente do Fluminense a não concluir o seu mandato.

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