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ALMANAQUE DO FLUMINENSE

A maior goleada de todos os tempos da última semana.

Updated: Nov 9, 2022


 

É público e notório que a maior goleada da história do futebol brasileiro é o 24 a 0 aplicado pelo Botafogo sobre o Mangueira em 30 de maio de 1909 em jogo válido pelo primeiro turno do Campeonato Carioca. Pelo menos essa é a história que vem sendo repetida através das décadas em jornais, livros, revistas e mais recentemente em sítios espalhados pela web. Mas será que nesses novos tempos de revisões históricas, tornadas possíveis graças ao imenso arquivo de jornais antigos disponibilizados on-line pela Biblioteca Nacional, esse recorde se sustenta? Um exame minucioso das milhões de páginas de periódicos do século passado disponíveis confirma a perenidade desse recorde? Ou existe algum outro jogo desconhecido, disputado em tempos longínquos em algum canto do país, que supera esse placar elástico? Essa foi a pesquisa que eu me propus fazer há algum tempo e cujo surpreendente resultado final eu publico agora. Uma rápida leitura dos principais jornais cariocas do dia posterior a propagada goleada do Botafogo de 1909 não deixam dúvidas quanto a veracidade do resultado da partida (ver fig. 1). O alvinegro de fato derrotou o Sport Club Mangueira pelo incrível placar de 24 a 0. O atacante Gilbert Hime, que no ano seguinte trocaria o Botafogo pelo Fluminense, anotou nove gols nessa partida. Recorde que sabidamente só seria superado em 1976, quando Dario marcou dez na goleada de 14 a 0 do Sport Recife sobre o Santo Amaro, válida pelo Campeonato Pernambucano. Se o clube tijucano, tradicional saco de pancadas do futebol carioca, atuou de fato como sempre foi propagado com um time improvisado (e com apenas dez jogadores) nesse jogo histórico é discutível, pois os jornais da época não mencionam essa informação e relatos publicados mais de meio século depois por antigos sócios do Mangueira não são inteiramente confiáveis. O que torna o feito do Botafogo ainda mais impressionante é que os jogos da época tinham apenas 80 minutos de duração, o que dá a incrível média de um gol marcado pelo alvinegro a cada três minutos e vinte segundos de bola rolando.


fig. 1 – Poucos jornais mencionaram a histórica goleada de 24 a 0 do Botafogo sobre o Mangueira de 30 de maio de 1909. O Correio da Manhã foi um deles.

O que pouca gente sabe é que nesse mesmo dia, duas horas antes, no campo da Rua Ferrer, em Bangú, em jogo válido pelo campeonato de segundos quadros, em disputa da Taça Caxambú, o Fluminense aplicou um não menos impressionante 22 a 0 no América, com direito a dez gols do atacante Alberto Borgerth (aquele mesmo que em 1911 lideraria a cisão no Tricolor que levaria à criação do departamento de futebol do Flamengo) (ver fig. 2). Por poucas horas, portanto, o Fluminense deteve o recorde da maior goleada do futebol brasileiro e Dario, ao contrário do que diz a história, não bateu um recorde em 1976, apenas igualou um feito, alcançado pela primeira vez por um jogador do Fluminense 67 anos antes.

fig. 2 – Tanto a Gazeta de Notícias como o O Paiz deram destaque a goleada de 22 a 0 do Fluminense sobre o América no Campeonato Carioca de segundos quadros.


Confirmada a goleada de 24 a 0 do Botafogo sobre o Mangueira de 1909 ela segue sendo, portanto, a maior da história do futebol brasileiro, correto? Era isso que eu acreditava mas surpreendentemente minha pesquisa mostrou que esse recorde durou apenas seis anos, pois em 1915, na mesma cidade do Rio de Janeiro, um pequeno clube do bairro do Jardim Botânico, e é importante frisar, também em jogo oficial de campeonato, superou essa marca e é dessa partida que eu vou falar agora. Fundado em 16 de março de 1907 com o nome de Club Sportivo Victorioso por um grupo de operários de uma fábrica de tecidos, o Carioca Football Club, atual Carioca Esporte clube, disputou ao todo seis edições do Campeonato Estadual da Primeira Divisão (1917, 1918, 1919, 1931, 1932 e 1935), sendo seu maior triunfo a conquista do Torneio Início de 1919. Mas foi quando disputava o campeonato de segundos quadros da segunda divisão em 1915 que ele conseguiu a façanha de golear a equipe do Boqueirão do Passeio (clube de regatas fundado em 1897 mas que criou um departamento de futebol na década de 1910) por inacreditáveis 25 a 1 (ver fig. 3).


fig. 3 – A goleada de 25 a 1 do Carioca sobre o Boqueirão do Passeio de 15 de agosto de 1915 pelo Campeonato Carioca de segundos quadros da segunda divisão não passou despercebida pela imprensa que deu destaque a quebra do recorde de gols em uma única partida.


Por se tratar de um encontro de segundos quadros da segunda divisão não há muitas informações sobre essa partida. Disputada no dia 15 de agosto de 1915 no campo do Andaraí na Rua Prefeito Serzedello Correa ela foi arbitrada por Alberto Teixeira do Mangueira. Não há informações sobre as escalações das equipes ou crônica do desenrolar da partida, mas os autores dos gols do Carioca são conhecidos. São eles: Paulo Torres (7), Celso Santa Cruz (7), Oscar Peres da Silva (6), Pedro Ruiz Martins (3) e Paulo Lopes (2). Embora os detalhes sejam poucos, vários jornais da época mencionaram a quebra do recorde de gols com algum destaque. Muitos podem argumentar que um jogo da segunda divisão e ainda mais de reservas não tem o mesmo peso de um da divisão principal e não pode ser comparado. É um argumento válido, mas nada muda o fato que cabe ao Carioca, e não ao Botafogo, a honra de ter aplicado a maior goleada da história do futebol brasileiro. Pelo menos até algum outro pesquisador descobrir algum outro jogo que supere esse 25 a 1.

fig 4 – A vexaminosa derrota de 25 a 1 para o Carioca pode ter provocado a renúncia dos dirigentes do Boqueirão do Passeio como demonstra a nota acima, publicada três dias após a goleada.

fig. 5 – Ao fazer um resumo ano ano das maiores goleadas da história do Campeonato Carioca no final de 1916, o Jornal do Comércio não deixou de mencionar a goleada de 25 a 1 do Carioca.

fig. 6 – Nos anos subsequentes toda vez que o Carioca fazia aniversário e sua história era contada, a goleada de 25 a 1 era lembrada.

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